segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fim ao acaso



Uma página em branco
e as mãos que anseiam a escrita
a história que teima em existir
de um fim que não devia começar


Ela que revela-se complexa
Ele que prefere simplificá-la
entre o espinho e a rosa
Ele prefere, ela
e ela prefere a prosa


Ele, aos versos
constrói a fala
E da fala inala a dor
dos dizeres, e sentires
permanece medo
dos segredos que habita
o novo amor


Ela, desnuda da coragem
percorre as vestes que cobre o teu corpo
Ele, semeia tempo
dentro de um abraço
de uma valsa ao acaso
quiçá ela lembrou


Ele, já quis ser distante
transporta-se ao mundo
que não era ela
Mas seria bobagem
fazer sentido a súbita vontade
que a vaidade o contaminou


Ela, moça arredia
já pronuncia o fim
do que ainda nem começou
Ele, já começa na certeza
de que o amor tem a beleza
que ela já complicou


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Entre sentidos



 
Entre o mar
e tanta coisa
Entre deuses
semi-deuses
e tantas coisas

Entre coisas
e tanta gente
entre e sente
sentindo e sem sentir
e tanto medo

Entre
será bem vinda
segregará a mágoa
esquecerá a forma
sentirás menina

Entre
e de dentro verás
cerrado os olhos
permitindo a alma
sentiremos a paz

Entre nós
há tanta gente
há tanto medo
há o que sente
e o sem sentir



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Transeunte



Quantas vielas têm o amor?
Qual delas é o caminho para felicidade?
Em que sentido caminho para encontrar você?
De que lado fica a rua da tua vontade?

Estou perdido!
Vago ao que sou
E me perco em você

Andando em becos escuros
Repletos de desencontros
Transeunte de desejos
Tua dúvida é o meu pranto

Passos largos
De caminhos sem volta
Entre o abismo da sua saída
E o sentimento que me fecha as portas

Avenida de inconstâncias
Faz-me um ponto na imensidão
E quanto mais chegamos perto
É quando mais tu me confundes

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Maré de dois barcos



Ao encontro do mar
Velejei em tua riqueza
E em tua pele negra
Desvendei a tua tristeza

Ao repouso, do vento morno
De uma tarde de domingo
Percebi que o que veio chorando
Fez retorno sorrindo

Da calmaria de um crepúsculo
E do teu colo largo
Fomos amantes do tempo
Pseudo apaixonados

Nossos atos e anseios
Foi tomado por quimeras
Intocado pelos excessos
Na medida em que deveras

Hoje já percebo mais
Na maré de dois barcos
Que o encontro com teu porto
No teu cais
Nunca estive ancorado

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Dela




Era ela Bela
Bela, de uma beleza infinita
Da poesia, nata
E de fato linda

Bela tinha seus encantos
Transformava em canto
Tudo aquilo que lia
E sorria largo, e se envergonhava
Quando a prosa não a permitia

Ela era minha
Doava-se aos bocados
Sentia-me sempre amado
Mesmo pelo pouco
Que retribuía

Saudade não era dela
Isso Bela não permitia
Sondava as mágoas
Que meu coração pulsava
Transbordava em si
A minha pura alegria

Mas de Bela, havia cansaço
Era maltrato o que eu não tinha
Encontros tortos com uma fera
Fez-me ver minha Bela
Tornar-se sozinha

Agora, Bela já é saudade
De uma vontade, da companhia
O que era meu, não era dela
Mas o que era Bela
Não será mais minha



terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quero...




Eu quero
A liberdade descontrolada
O sentimento desmedido
Ser moleque, ser menino
Ser sensato e mais tranqüilo

Eu quero ser o seu grito
No silêncio da minha chegada
Ser o sorriso
No final de cada espera
Ser teu conforto
Na placidez do meu abraço
Ser a alegria que a energia
Do teu beijo me libera

Eu quero mais
Do que somos agora
A segurança
No caminho da tua volta
A certeza
Que emana a minha vontade
O teu sim
Que completa a minha verdade

Eu, certo ou errado, quero
De um querer infinito
Da paixão, do cansaço
Saber o que faço
Para tornar-me seu abrigo.


Oyá guerreira




Flor de encantos e malês
É sublime como os ifás
Tal beleza das yabás
Faz aflorar os êres

Ainda mais bela com os filás
Presos aos seus adês
Ah, quem me dera aos orixás
Presentear-me de tal lucidez

Desnuda da rispidez
Dança solta, em fúria rasa
Reluz o céu em raios e brasa
É tempestade aos seus quereres

Aos barros de vermelhidão
És Oyá guerreira
Menina, mulher de paixão
És bela, de forma inteira

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Entrega



Dar-te-ei o tom
E em todo som
E de toda valsa
Que o coração pulsar

Dar-te-ei o vintém de mar
Na mais doce amplidão
Devastaste a escuridão
Aos olhos que imensidão
Poderá lacrimejar

Pois a espera do que foi sentido
Sabido da tua destreza
Ainda faz sentindo
Sem a ilusória beleza
Que a certeza não irá salutar

Mas se ainda permitires, gostaria
De fazer-te entender em plenitude
Totalizar-te em tua entrega
O que minhas palavras não disserem
No teu olhar, meu olhar revela

sábado, 6 de agosto de 2011

Compasso




Permita-me ao teu bailar
A conduzir-te em valsa doce
Ajeito o meu,
Como se seu jeito fosse
Compartilhando o teu caminhar.
Permita-se em meu pensamento morar

Oh, senhora cante,
Quero ouvir ao longe
Que o teu canto plante
O que minha palavra trouxe
Fizeste torpe o meu presente,
Senhora cante, ouvir-te-ei contente

Encantar-me do pensamento
Morar onde for contento
Referindo-se ao que já sente
Façamos a inércia, o movimento
Expurgaríamos o ato, já concreto
O que de fato é fraco, da ao novo um paralelo.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Por minha vontade

.


Tenho vontade de fazer apaixonar-se
Tenho vontade em mim
Espera que o tempo permite
Que não sejamos nós
Algozes como arlequim.

Do outro,
Tenderemos ao nosso viés
Seremos sensatos,
Caminharemos rasos
Com os nossos próprios pés

Ao ato, prefiro ser criança
Sem a ilusória esperança de prisão
Passos vagam, se perdem
Dos meus, só terá certeza
Da necessária prontidão

Então, de presente, meu questionar
De novo, vontade em mim
Nada além, e de fato
Do que tornastes torpe de desejo
Aguardando o ensejo, enfim


.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Por tua maldade




Cético, em meu ato de impelir
Dentro, e sem teu zelo
Sou empenho
Sem interessar
Sou síncope
Em desespero

Implodindo de tamanha dor
Falecendo em cárcere do desejo
Sou cansaço
Sem um abraço
Sou desconexo
Se não te vejo

Desfaz as minhas queixas
Nem delas, dar-te-ei o seu perdão
Sou mágoa
Sem tua verdade
Sou sensato
Por solidão

Comentastes a maldade lançada
É a arma que em punho esgrima
Sou completo
Sem teu vazio
E tua máscara
Aos poucos finda

 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Por não saber

Foto: Henri Cartier Bresson























O antes era minha dádiva
Mas agora é o meu pranto
Conheci então teu encanto
E por ele virou prisão, meu pensamento

Distancia-me da tua boca
Socorre-me onde sou aflito
Desgastada, relações de vícios
Já tonastes parte de mim conflito

O mito que tens da minha cultura,
Seja ela impura, seja ela raça
A imposição da verdade não me abraça,
Nem transforma em brasa, o meu contento

Fez-me morrer ao que tento
Inciso de profundidade, ao esperar
Mas sedento de encontro
Da saudade, irei salutar


terça-feira, 7 de junho de 2011

Força de Vontade

Foto: Pierre Verger























O que me traz
Seu olhar que não reluz
Teus beijos que me traem
Teu semblante não me guia, não conduz

De alguns, que me fez querer
De verdade, que me faz lutar
Do frio teu que faz queimar
Bruta necessidade de voltar

Onde está o mar
Que julguei ser meu
A essência, a veemência de seu
Já é tarde pra cantar

Melancolia que dorme no peito
Descansa direito
Dentro do sonho, imponho
Que um dia seja saudade

Peito se abre
Ao difícil de entender
Preciso descansar, um pouco
Repousar ao que é sofrer

Acalmado em peito vivaz
Descanso de tudo
Fadado, contudo
Ao que o tempo não traz

Descobertas que não fizeram abrigo
No momento fazem conflitos
Não seja plena, seja pequena,
Mas que seja contigo.


sábado, 4 de junho de 2011

Expectativas

Foto: Sebastião Salgado















Suas doses não são letais
Na proporção que são legais,
Machuca, macera, matura...
Fazendo-me querer presente
O que distante já se tornou.
Continuando a querer,
Assim como cansaço
A sua inércia me tornou.
E a calma, em abundancia
Já me contagiou.
Agora vago, sou saudade.
Minha ansiedade foi clemência
Na não mais infinita paciência,
O meu rosto sucumbiu,
E se abriu a porta
Para aquele que ri
Para aquele chora,
Para o poeta, incerto
Do agora.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Avexado




Foto: Henri Cartier Bresson


Se tudo se perde
Teus olhos me perdem
Teu beijo me perde
Teu desejo me perde
Minha vontade te pede...

Se tudo é desencontro
Nossos anseios são desencontros
Nosso tocar é desencontro
Nossos carinhos são desencontros
Vamos findar em desencanto.

Mas se pedes mais calma
Minha paciência em calma
Minha tristeza em calma
Meu sentido se acalma
Mas agonia permanece em minh'alma

Sou plácido, não lúcido....
 
 

domingo, 29 de maio de 2011

Flor de "Lis"


Foto: Sebastião Salgado






















Menina, teu semblante é paz
Teu olhar é calma
Tua fala é doce

Menina, mulher menina
Transmite um pulsar
De extrema sofreguidão

Menina, outra vez
Que não carece de definição
Emana a essência do teu brilho

E quando canta, menina
E quando dança, menina
Teu riso encanta

Exprime um leve, e inebriante ar
De menina.

sábado, 28 de maio de 2011

Entenda

Foto: Henri Cartier Bresson















Rendido eu, aos teus encantos
Deixarei distante o que não conheço
Mas reza aquela ladainha
De tudo teu já me interesso

No passado já deleitou-se
E nele despediu-se de morada
Responda as minhas queixas
E saberei onde sua alma está fincada

Se do meu valor compartilhar
Jamais o passado irá mudar
O que construímos até esse instante
E que constante deverá durar

Que não perdurem as minhas queixas
E sem elas cure a tua fala
Na verdade que nós temos, hoje
A paixão é um dom, que ainda não inala.


domingo, 22 de maio de 2011

Quimera tardia


Foto: Henri Cartier Bresson


Por apresentar-se a mim, agora
Não posso mais esquecer as quimeras de outrora
Mas, compartilharei dos teus encantos,
O que não porá fim, meus pensamentos

Respeitosamente, te condeno
A aproximar-se mais ao que for chama
Desnuda, corpo teu, ao que foi drama
Dele, seremos mais, do que desejo

Saudosismos, farão encontro
Vivaz, de alma plena
Sem ser sensato, em prosa digo
O melhor da espera, é quando contenta

Viceral, ao aventurar-se
Seguro sou, ao que for certeza
Colocar-me-ei a disposição
Quando queira tu, provar beleza.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Será?



Foto: Henri Cartier Bresson















Em pensamento vago em ti
E na vontade da presença
Ergo meu riso.

Fadados ao encontro,
Sublimaremos o momento
Envolvidos pela amplitude
Da vontade que nos cerca!

Se o querer
Não querer for seu cárcere
Estarás em mim, frente à face
Da tua liberdade.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Assim será

Foto: Pierre Verger























Encontrei o teu beijo
No elástico desejo, do acaso
Que dilata minha vontade
Cedo ou tarde, seríamos azo

Dizer, enfim felicidade
Das preces, à vontade
Dos quereres, à ansiedade
Findamos em realidade

Serei o que te sustenta
As alegrias que te contenta
Seus olhares e anseios
Fará em mim o teu passeio

Viverei em verdade
Mesmo que calado, acuado
Meu valor e o meu apreço
Serão, então, teu aconchego.

Gosto do improvável
Mas não do inconstante
De ser, o ser que te encanta
Da felicidade em teu semblante

Gosto de te querer
Mas não do insistir
Da vontade que me é inerente
Não posso jamais mentir

Gosto ainda do desejo por teu corpo
Mas a tua mente me impede,
Me contenho e não me movo
Será quando tu quiseres, de novo.


domingo, 15 de maio de 2011

Amores Brutos


Foto: Heri Cartier Bresson















Você me dá vontade de gritar
Mas me contenho
Ao sentido que não faz,
me atenho

Você me desespera, e despreza
Mas eu te desejo
E ao que lhe é pedido,
bocejo.

Você não sustenta a vontade
Mas de mim, contraste.
Com lentidão,
permanece tarde

Tua boca é o que desejo
E tua mente é o que detesto.
Infectado de avidez,
protesto.

Sinto que sou o que precisa
Mas ao que posso, sou volume
Sou sentido,
sou cobiça.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Apaixonado


Foto: Pierre Verger



Talvez quiséssemos sentir,
Livremente, inconscientemente, loucos,
Desesperados e simplesmente, sentir.
O que nem de perto faz sentido,
O que nem coberto da abrigo,
Mas quando distante da saudade,
Inquietação, ansiedade.
Nunca vamos saber,
Tentaremos até prever,
O que terá o medo do ter,
Mas que precisaremos
Da liberdade do querer.
Não procuro a formalidade,
Coerência, moralidade.
Sou insensato, inconstante, equivocado,
Quem sabe até distante,
Mas sou, e amo ser
Apaixonado.

domingo, 24 de abril de 2011

Xote do Aconchego



Foto: Pierre Verger






















Preciso te ver
Preciso te encontrar
Nos teus braços adormecer
Ah, meu bem com o teu cantar

Na tua calma quero deitar
Voltar a ser criança
No desejo repousar
Reascender a esperança

Quero ter seu aconchego
Afogar-me em teu ser
Ter pra mim aquele beijo
Que será tão doce feito você

Não maltrate a minha vontade
Nas angustias do meu querer
Não digas pra mim que é tarde
Nas verdades do teu saber

Diz pra mim
Que já quer amar de novo
E seu desejo sou eu quem movo
Sua vontade já  me pertence

Diz pra mim
Que já tinhas que ser minha
E aos olhares que detinha
Eu em ti, serei sua alegria

 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Vontade



Foto: Sebastião Salgado
















Meu coração bate
No compasso da zabumba
Ritmado de desejo,
Ansiando por teu beijo.

Aproveitando o ensejo da dança
Abrilhantando de esperança
O que antes era dor
Rejuvenesce, enfim, como flor.

Cansado de penar, e de querer
Resolvi acreditar, me refazer
Que dentro do tempo
Um instante tão imenso
Perceberá o meu contento, em te ter

Mas louco sou, por você
Vivo a te esperar, e a te querer
Sentindo o aperto que dá no peito
Sem a calmaria, inerente do sujeito

Já fiz em prosa, ja fiz verso
E não permite, não te interesso
Fazendo-me egresso,
Mas presente sou, ao que for inverso.


domingo, 17 de abril de 2011

Verba volant



Foto: Mário Cravo Neto


Beleza negra e singela,
No segundo que revelas
Inciso de ansiedade e quimeras.
Mais do que linda, és menina.
Displicente me ensina,
Do passeio das pontas dos pés,
Ao meu encontro
Com o que for de seu viés.
E dos pensamentos meus
Não se engana,
Revive lembranças,
Exaurida de cansaço.
O que questiono, é como faço
Para repousar em teu colo,
Fenecer em teu abraço?



Ater-me-ei a escrita, mesmo sabendo que ....  "verba volant, scripta manet”

domingo, 10 de abril de 2011

Sedento





Foto: Henri Cartier Bresson



Não findei a minha vontade
Mas vejo tarde, o momento que vive.
Pelo outro, não me exponho, não me movo
Mas por teu cuidado, não sairei ileso
Percebo o viés do seu apreço
Mas vejo quando deito, quando adormeço
Que o outro ainda está em ti
E que tu é que não o deixas partir.


Entregastes o que em teu peito valia
Não resgatarás da noite a nenhum dia.
Entre meus estreitos de euforia
Certame que entreguei-lhe em nostalgia
Permanecerei desejos, constante
Oras mendigo, outras moleque, agora amante.
Mas resistes ao que me interesso
Fazendo presente o deverás egresso.


Do que quero ao momento que mereço,
Já não faço e nem mais aconteço.
Em mim, o que é teu, restaste o medo.
Da vontade, revelado o segredo.
Habitante no âmbito inseguro
Serei distante, manter-me-ei mudo.
De mim só será sentido
Aquilo que reciproco não puder mensurar.



segunda-feira, 4 de abril de 2011

Embriaguez

 

Foto: Henri Cartier Bresson

Quero beber da cachaça do teu beijo
E embriagar-me do desejo em seu corpo
Quase morto, faço abrigo
No alicerce que é a fuga de ti.
E por tudo que outrora vivi
Resumiria no teu abraço, o que é conforto.
Mas de confronto hei de lutar,
Para ser, ou não ser
Do que, e apenas penar.


terça-feira, 15 de março de 2011

Desejo Maciço


Foto: Mário Carvo Neto


Não gosto do teu desejo maciço.
É mais do que preciso.
Inciso ao peito,
Do que distante é direito,
Causa-efeito do que de fato
É conciso.
Cairá ao piso,
O que previ de risco.
Não quero o teu visgo,
Decido antes do riso,
Mas arrisco.
Devolva-me o teu desejo maciço


terça-feira, 8 de março de 2011

Cansaço



Foto: Sebastião Salgado



























Abrupta saudade,
Anseio da querência da boca
Da carência, da saliência,
Do que há de louca.
Da pele que repele,
Da renúncia que requere
A paciência que revele.
Poento aos anseios
Da minha liberdade,
Constatei veracidade
Que se reflete em quimeras,
No instante que deveras,
Na languidez da minha idade.
Dentro do que pedi, perdi,
O que já tinha, e quiçá ser minha,
Pois não bastou o que me oferecia.
Sedento permaneço, e ofereço
O sábio silêncio, que me afaga,
Que adormeço.



quinta-feira, 3 de março de 2011

Alvorada


Foto: Henri Cartier Bresson


Teimei em teu cuidado
E vi brotar a distância do teu querer.
Da dor do meu engano
Nasceu em ti o viés do entanto.

Sem mais angústias
Ou meu lamento,
O outro enfim,
Se fez atento.

Versado em me punir,
Inverti o meu sossego
Brutalmente ao que foi chama,
Aos antagonismos de quem ama,
Da flacidez, muscular do peito.

O que muito deleito
Não é mais do que agora,
Sementes que plantei outrora,
Nasceu o sim, no céu d’aurora.

Entre as vírgulas
Que compõe meu leito,
Não me julgues ao que é direito,
Na inconstância é que me deito.
De tudo que for contra o contrário,
Suspeito.




quarta-feira, 2 de março de 2011

Pensei em ti



Foto: Henri Cartier Bresson


















A intensidade com que duvidas,
Também é sentida em teu olhar.
O que farei se não acreditar
Que em ti projetei a minha querência,
Até e então minha carência
De uma dia ao teu lado repousar?
Não fragmentei o que sou,
Nem lá ou aqui,
Sou apenas o que vivi,
E talvez até, de fato,
Esqueci de notar.
O âmbito em que te encontro,
Transformou-se em um novo ponto
Do que resume meu encanto.
E dele irei vibrar, me refazer, me deleitar
Quando fizer-me beber do teu sentido,
Dando-me teus olhos e ouvidos.
Embriagando-me,
Ao que prezamos tanto,
Exauridos ao pranto,
Dentro do meu viés te garanto,
Seguro sou, ao que pensar.
Permitir-se-á ao que já deveras ser seu?


 
 

terça-feira, 1 de março de 2011

Minh' Alma




Foto: Henri Cartier Bresson

Se a minha alma, tua fosse
Semblante de alegria
Pairaria em meio às tempestades
Das tuas dúvidas.
Ao meu descontentamento,
Quando não semeia
O viés de tua embriaguez
É que findo em talvez.
E nos instante dilatastes
Minha vontade, de vez.
Do complexo sonhador,
Superfície morta do amor,
E o que é por dentro acanhada,
Jamais valeria ser, ao ter, o que é nada.
Placidez que distante limitou-se
Dilui a Lucidez, que não refez,
Nenhuma vez, o que ceifou como foice.



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sentido da Ira




Foto: Mario Cravo Neto



A ira me fez companhia
Diante da nostalgia,
Que é a surdez por tua voz,
Se não existe o nós,
Não seja algoz.
O que de fato
Deveras ter sentido,
Não fiz de abrigo,
Nem tenho comigo.
Do que é paz
Ergui meu berço.
Mas o teu beijo,
Não é seguro
Manter-me-ei mudo,
Isentar-me-ei do medo.
Mas ao que concerne o meu segredo
Revelarei no pranto.
No entanto, sem mais um momento,
Esquecerei quem fui,
Deixarei cair no tempo.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mais-valia




Foto: Mario Cravo Neto

E o que sustenta meu pranto, é quando
Mais-valia é ter, do que encanto
Por enquanto, mas não
Nesse instante,
Serei prestante
Ao que quero tanto.
Resgate, que sem vontade,
Permaneço sedento,
Poento, mas o tormento
Não imponho, não aguento.
Sei ceifar os unguentos
Do teu corpo, ao repouso
Morto, do que só será contento.
Transeunte de desejos,
Meus anseios não findarão,
Lograrão o que é contraditar,
Impugnar, desagradar.
O que foi de ser só,
O que há de ser só,
O que será só, solidão.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

3º Azo (Pretexto)






Foto: Henri Cartier Bresson

Projeções, expectativas, mentiras.
Por habitar no peito o sentido, perdido
É que da posse de quem tem,
Será diminuto quando convém.
Após a espera sofrida,
Terá as costas, a ira.
E sem o peito avivado,
Semblante de olhar dilatado,
Choroso, tinhoso, acanhado.




domingo, 20 de fevereiro de 2011

Primeiro Encontro




Foto: Henri Cartier Bresson




   Foi quando teus olhos não miravam a mim, mas o teu olhar revelava o desejo contido, convertido em singelas palavras, expressadas timidamente, que não representavam nem de perto a amplitude da vontade que nos cercava.

   Foi então, que nesse momento, percebi um suspiro, e um tanto zonzo, entorpecido, inebriado percebi o quanto ansiávamos pelo beijo.

   Beijo teu, que macera minha vontade, uma bruta necessidade em tê-lo novamente, presente ao encontro do meu peito.

   Enfim deleito ao que foi e ao que será de ser. Mesmo que sem saber, ao que virá a suceder, valeu um dia te ter, do que nunca te encontrar.




sábado, 19 de fevereiro de 2011

2º Azo (Ocasião)



Foto: Henri Cartier Bresson


Eu te quero,
E como quero te querer assim.
Pois tudo que haverá em mim
Do que me permite o sentido,
Estaria mentindo,
Se não me revelasse assim.
Agora, dos pensamentos meus terá certeza,
Aqueles que sem beleza, mas
Exauridos da vontade,
Jamais será tarde
Para transformá-los em verdade.
Permitir-se-á ao que sejamos nós,
Pois a ausência da tua voz,
Já encantou o meu pensar.

 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

1º Azo (Causa)





Foto: Mario Cravo Neto


Vivi no jardim da saudade
Quando tarde
Encontrei a felicidade no teu cantar.
Sem mais voar, vagar, velar teu corpo,
Respeitei morto, mas não sem penar.
Azo do meu querer
É escrever o que não saberá.
E de viver a ávida saudade.
Nas preces da vontade
Alargares o meu pensar.

 
 
 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fabulação


Foto: Mario Cravo Neto
                                                                                         


Negra pele, negra
Quimera dos meus desejos
Anseio, pelo passeio
Em sua melanina, menina


Ao teu corpo alongado
O meu em ti despojado
Aquentado por tua pele
O teu suor em mim é breve


Querer-se-á ser dois
Preocupe-se com o que virá depois
Amordaçará minhas queixas
Descobrirei ardor com que beijas


Sentirás a vontade que em mim habita
Chamarás de querência maldita
Mas viverá o novo instante, seguro
Com o saber que o amor em mim é mudo

 
 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Som do Sossego



Foto: Henri Cartier Bresson

























Timidez, por que não fugistes de mim?
Por que não rompestes a barreira entre o riso e a fala?
Entreguei-me a ti, quando não vivi o que de fato deveras ser minha alegria.
Todavia, a nostalgia por tua voz acalentou minha ânsia, e a ignorância concernente ao meu dia.
Proporcionar-me-á a ausência do medo, onde nem de perto mensurará o que poderia ser seu.
Foste tu, beleza em magia.
Foste tu, quietante agonia.
Mas foste hora, fizeste no tempo.
Mas foste alegria, fizeste contentamento.
E ao que se refere todo encanto, trouxeste em canto, o meu sossêgo.

 
 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fim Infinito






Foto: Sebastião Salgado

























A minha carne entregou-se aos devaneios
E do receio ergui meu risco.
Desfiz meu riso.
E a vida pregava-me uma peça
O que o tempo demorava
Era o que eu tinha de pressa
Mas a sua soberba não permitia conversa
E a solidão é a condição que me resta.
Mas, e enfim conquistei a liberdade,
Ainda que presa em teu querer.
E ao final dos mil perdões,
Perdoou-me por não te trair.
Pois fim de quem ama,
Será de todo pensamento.
E em cada drama,
Hei de lembrar das derradeiras noites,
Postados a cama.
Disperso ao que foi do mundo,
Fiz infinito ao que foi de seu.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pressa




Foto: Henri Cartier Bresson



Pai, dai-me lucidez.
Entre o tento, e o por fazer,
Hei de ter assuntos a rever.


Abrandai o comportamento,
Transformai em relevâncias,
Aprimorai as inconstâncias.



Pai, sustentai a proeza.
Entre o nada, e o por saber,
Hei de ter assuntos a aprender.

Encontrarás a soberba,
Desviarás da fraqueza,
Transformarás em certeza.



Pai, execrai a dor.
Entre o tronco, e o por sofrer,
Hei de ter assuntos a morrer.

Ceifarás a tristeza,
Libertarás da indiferença,
Findarás em amor.



domingo, 30 de janeiro de 2011

Não mais




Foto: Sebastião Salgado

                                                          
Não vaguei nos teus pensamentos,
Mas já fiz morada no teu sorriso.


Não brilhastes a luz dos teus encantos,
Mas já projetei o estreitamento.


Não penetrei em teu olhar,
Mas dos olhos teus já fiz deleite.


Não reverenciei o toque da tua pele,
Mas o meu rosto repousará ao que for de ser.


Não revelastes o segredo da tua inocência,
Mas dilatou a paciência do meu desejo.


Não me informaste sobre o tempo,
Mas dentro das horas já faço abrigo.


Inaudita certeza, alicerce da beleza do convívio,
Da descoberta, do alívio.


Não saberás o que será de mim,
Mas em mim terá de viver, e de morrer ao que for cotrário.





"[...] quando tivermos a audácia e a coragem de nos entregar ao imprevisível [...]"
Nídia Virgínia