sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sentido da Ira




Foto: Mario Cravo Neto



A ira me fez companhia
Diante da nostalgia,
Que é a surdez por tua voz,
Se não existe o nós,
Não seja algoz.
O que de fato
Deveras ter sentido,
Não fiz de abrigo,
Nem tenho comigo.
Do que é paz
Ergui meu berço.
Mas o teu beijo,
Não é seguro
Manter-me-ei mudo,
Isentar-me-ei do medo.
Mas ao que concerne o meu segredo
Revelarei no pranto.
No entanto, sem mais um momento,
Esquecerei quem fui,
Deixarei cair no tempo.



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Mais-valia




Foto: Mario Cravo Neto

E o que sustenta meu pranto, é quando
Mais-valia é ter, do que encanto
Por enquanto, mas não
Nesse instante,
Serei prestante
Ao que quero tanto.
Resgate, que sem vontade,
Permaneço sedento,
Poento, mas o tormento
Não imponho, não aguento.
Sei ceifar os unguentos
Do teu corpo, ao repouso
Morto, do que só será contento.
Transeunte de desejos,
Meus anseios não findarão,
Lograrão o que é contraditar,
Impugnar, desagradar.
O que foi de ser só,
O que há de ser só,
O que será só, solidão.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

3º Azo (Pretexto)






Foto: Henri Cartier Bresson

Projeções, expectativas, mentiras.
Por habitar no peito o sentido, perdido
É que da posse de quem tem,
Será diminuto quando convém.
Após a espera sofrida,
Terá as costas, a ira.
E sem o peito avivado,
Semblante de olhar dilatado,
Choroso, tinhoso, acanhado.




domingo, 20 de fevereiro de 2011

Primeiro Encontro




Foto: Henri Cartier Bresson




   Foi quando teus olhos não miravam a mim, mas o teu olhar revelava o desejo contido, convertido em singelas palavras, expressadas timidamente, que não representavam nem de perto a amplitude da vontade que nos cercava.

   Foi então, que nesse momento, percebi um suspiro, e um tanto zonzo, entorpecido, inebriado percebi o quanto ansiávamos pelo beijo.

   Beijo teu, que macera minha vontade, uma bruta necessidade em tê-lo novamente, presente ao encontro do meu peito.

   Enfim deleito ao que foi e ao que será de ser. Mesmo que sem saber, ao que virá a suceder, valeu um dia te ter, do que nunca te encontrar.




sábado, 19 de fevereiro de 2011

2º Azo (Ocasião)



Foto: Henri Cartier Bresson


Eu te quero,
E como quero te querer assim.
Pois tudo que haverá em mim
Do que me permite o sentido,
Estaria mentindo,
Se não me revelasse assim.
Agora, dos pensamentos meus terá certeza,
Aqueles que sem beleza, mas
Exauridos da vontade,
Jamais será tarde
Para transformá-los em verdade.
Permitir-se-á ao que sejamos nós,
Pois a ausência da tua voz,
Já encantou o meu pensar.

 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

1º Azo (Causa)





Foto: Mario Cravo Neto


Vivi no jardim da saudade
Quando tarde
Encontrei a felicidade no teu cantar.
Sem mais voar, vagar, velar teu corpo,
Respeitei morto, mas não sem penar.
Azo do meu querer
É escrever o que não saberá.
E de viver a ávida saudade.
Nas preces da vontade
Alargares o meu pensar.

 
 
 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Fabulação


Foto: Mario Cravo Neto
                                                                                         


Negra pele, negra
Quimera dos meus desejos
Anseio, pelo passeio
Em sua melanina, menina


Ao teu corpo alongado
O meu em ti despojado
Aquentado por tua pele
O teu suor em mim é breve


Querer-se-á ser dois
Preocupe-se com o que virá depois
Amordaçará minhas queixas
Descobrirei ardor com que beijas


Sentirás a vontade que em mim habita
Chamarás de querência maldita
Mas viverá o novo instante, seguro
Com o saber que o amor em mim é mudo

 
 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Som do Sossego



Foto: Henri Cartier Bresson

























Timidez, por que não fugistes de mim?
Por que não rompestes a barreira entre o riso e a fala?
Entreguei-me a ti, quando não vivi o que de fato deveras ser minha alegria.
Todavia, a nostalgia por tua voz acalentou minha ânsia, e a ignorância concernente ao meu dia.
Proporcionar-me-á a ausência do medo, onde nem de perto mensurará o que poderia ser seu.
Foste tu, beleza em magia.
Foste tu, quietante agonia.
Mas foste hora, fizeste no tempo.
Mas foste alegria, fizeste contentamento.
E ao que se refere todo encanto, trouxeste em canto, o meu sossêgo.

 
 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fim Infinito






Foto: Sebastião Salgado

























A minha carne entregou-se aos devaneios
E do receio ergui meu risco.
Desfiz meu riso.
E a vida pregava-me uma peça
O que o tempo demorava
Era o que eu tinha de pressa
Mas a sua soberba não permitia conversa
E a solidão é a condição que me resta.
Mas, e enfim conquistei a liberdade,
Ainda que presa em teu querer.
E ao final dos mil perdões,
Perdoou-me por não te trair.
Pois fim de quem ama,
Será de todo pensamento.
E em cada drama,
Hei de lembrar das derradeiras noites,
Postados a cama.
Disperso ao que foi do mundo,
Fiz infinito ao que foi de seu.


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pressa




Foto: Henri Cartier Bresson



Pai, dai-me lucidez.
Entre o tento, e o por fazer,
Hei de ter assuntos a rever.


Abrandai o comportamento,
Transformai em relevâncias,
Aprimorai as inconstâncias.



Pai, sustentai a proeza.
Entre o nada, e o por saber,
Hei de ter assuntos a aprender.

Encontrarás a soberba,
Desviarás da fraqueza,
Transformarás em certeza.



Pai, execrai a dor.
Entre o tronco, e o por sofrer,
Hei de ter assuntos a morrer.

Ceifarás a tristeza,
Libertarás da indiferença,
Findarás em amor.