domingo, 30 de janeiro de 2011

Não mais




Foto: Sebastião Salgado

                                                          
Não vaguei nos teus pensamentos,
Mas já fiz morada no teu sorriso.


Não brilhastes a luz dos teus encantos,
Mas já projetei o estreitamento.


Não penetrei em teu olhar,
Mas dos olhos teus já fiz deleite.


Não reverenciei o toque da tua pele,
Mas o meu rosto repousará ao que for de ser.


Não revelastes o segredo da tua inocência,
Mas dilatou a paciência do meu desejo.


Não me informaste sobre o tempo,
Mas dentro das horas já faço abrigo.


Inaudita certeza, alicerce da beleza do convívio,
Da descoberta, do alívio.


Não saberás o que será de mim,
Mas em mim terá de viver, e de morrer ao que for cotrário.





"[...] quando tivermos a audácia e a coragem de nos entregar ao imprevisível [...]"
Nídia Virgínia



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Se?



Foto: Henri Cartier Bresson

                                                  
E se o amanhã não couber no tempo
Entre estreitos de euforia
Placidez de nostalgias
Quietudes de folia


E se o tempo despojar-se ao deleite
Da beleza, saciado
Do olhar, abrandado
Do afago, macerado


Mas se o deleite for viés do engano
Transbordarás o pranto
Revelarás o santo
E não execrarás o medo




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Saúde




Foto: Henri Cartier Bresson

                                  
Um brinde a tristeza
Ainda que em beleza
Nunca hei de salutar
A arte do engano
Deveras que meu pranto
Desabou a encharcar


E dos riscos da tua pele
Alimentastes a minha história
Embalastes minha memória
E pela pele que me alimenta
O valor que me sustenta
Chamastes-me de escória


Compartilhei contigo o valor do meu tanto
Sem meu canto ou tua alegria,
Soluçante em descompassada melodia
Suspirando ao socorro que exercia
Morrendo ao entregar-me em nostalgia





domingo, 16 de janeiro de 2011

Saudações ao Sofrimento



Foto: Sebastião Salgado

                                      
Saudações ao sofrimento
Onde o sol é latente
Que da terra traz alento
Mas que não brota a semente


Mas se de tudo quero um pouco
Do pouco eu tenho o pranto
E do pranto o silêncio
Que revela o encanto


E que a palavra seja plena
Onde a língua é tão pouca
Onde o ato se releva
E se desnuda o que há de louca.


E do viés de liberdade que tenho
Busco o encontro daquilo que anseio
Quero fazer dos fins um meio
Dedicando-me a vida, com receio.



sábado, 15 de janeiro de 2011

Segundo sereno






Foto: Andreas Heiniger

O que dissestes a mim,
entre o tempo que corria
Entre as noites,
entre os dias
Soava melodia,
de encantos,
de alegria


E ao quentar da luz
do meio-dia
Não serás inerte,
quiçá fria.

Na ansiedade dos olhos
refletia
A querência
sujeita a rebeldia


Do contraste
que teima e inebria.


Rompestes o chão,
do sertão,
da Bahia.


E o segundo que passou,
é passado.
Mas o desejo que há no peito,
é passivo.

Mas da certeza
que de fato,
é ácido
Estaremos prontos
ao momento
plácido.




Renascimento



                                                                               Foto: Plácido Castro




Quero brotar do não
E como cão feroz, ser algoz
Entre tudo de nós
Revelar tua voz
Que de longe fez foz


Quero rever, nascer
Compreender o ter
Saber entender
Encontrar o ser
Para que mim, haver.


E dos sensatos, inatos
E do cunho sagrado
Revelar iatos
Que precedem passados
De pensamentos pesados


Do dia, que de hoje, é agora
Ceifava o tempo, em demora
Encontrava o instante, na hora
Ao lado de uma nobre senhora